O estabelecimento de uma relação, qualquer que seja o tipo, é feita de momentos de proximidade e distanciamento entre pessoas, como uma dança. A relação entre paciente e terapeuta não é diferente nesse sentido, sendo também ela composta inevitavelmente por micro rupturas (ou não tão micro), momentos de afastamento, que podem funcionar como desencadeadoras de abandonos da terapia ou, pelo contrário, do revelar e desmanchar do padrão relacional do paciente, potenciando um entendimento profundo desse mesmo padrão.
Deste modo, a aliança entre terapeuta e paciente não é uma aliança suave, perfeita e sempre harmoniosa. É também constituída dinamicamente por momentos de mal-entendidos, de rupturas e, espera-se, reparações.
Foram encontrados dois grandes tipos de rupturas de aliança terapêutica que ocorrem em psicoterapia: rupturas de afastamento e de confronto (Safran e Kraus, 2014).
No caso de rupturas de afastamento, os pacientes tendem a lidar com dificuldades no relacionamento terapêutico, não falando, oferecendo respostas monossilábicas às perguntas, mudando repentinamente de um assunto para outro assunto não relacionado ou tornando-se excessivamente complacentes com as recomendações do terapeuta.
O processo de resolução pode envolver a exploração de medos interpessoais e críticas internalizadas que estão a inibir a expressão de sentimentos negativos, bem como fornecer ao paciente a possibilidade de começar a comunicar seus desejos e necessidades.
Por outro lado, numa ruptura de confronto, o paciente pode expressar diretamente raiva, ressentimento ou insatisfação com o terapeuta ou algum aspecto do tratamento, muitas vezes de maneira exigente, culpando o terapeuta.
A resolução muitas vezes envolve o envolvimento empático do terapeuta com o paciente, a fim de facilitar a expressão de sentimentos de decepção, mágoa e, acima de tudo, vulnerabilidade.
A atenção do terapeuta a estes momentos-chave e a sua capacidade de tolerar e compreender as emoções dolorosas e/ou agressivas presentes numa ruptura, é essencial para uma resolução positiva dos mesmos.
Desta forma, é possível chegar mais perto do paciente, acolhendo-o e ajudando-o a descobrir que não será destruído por essas emoções dolorosas e/ou agressivas.
Referência:
Safran, J. & Kraus, J. (2014). Alliance Ruptures, Impasses, and Enactments: A Relational Perspective. Psychotherapy, 51(3), 381–387. https://doi.org/10.1037/a0036815
Psikikamente, desejo-vos um bom dia!
A.P.
Comments