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O Luto Infantil - Processo de Luto Durante a Infância

  • Foto do escritor: Psikika
    Psikika
  • 12 de mai. de 2024
  • 4 min de leitura

O processo de luto pode associar-se a diversos acontecimentos, contudo este encontra-se maioritariamente associado a perda de um ente querido onde residirá o nosso principal interesse. É um construto complexo influenciado por diversos fatores, nomeadamente o contexto em que o sujeito está inserido e o modo como este interfere na forma como gere a situação de perda.



Diversos autores definem o luto como “um processo mental no qual o equilíbrio físico é restabelecido após a perda de alguém significativo, manifestando uma resposta mental de dor associada a perda de interesse na relação com o mundo exterior, preocupação com memórias do objeto perdido e diminuição da capacidade de investir em novas relações”.



Este processo é considerado uma resposta adaptativa que permite garantir a sobrevivência do indivíduo face à separação ou perda, estando a ausência do mesmo associada a indicadores psicopatológicos.




Na literatura são mencionadas essencialmente 5 fases do luto:


  1. Choque que implica o não reconhecimento da perda bem como

  2. A negação do acontecimento,

  3. O protesto que se baseia na procura pela pessoa perdida,

  4. O desespero quando o sujeito se apercebe que a perda é permanente, associado a sentimentos de tristeza, raiva, culpa, ansiedade e retirada social e

  5. A aceitação quando há uma adaptação à perda e o retorno ao seu funcionamento normal, bem como o reinvestimento nos relacionamentos.

Neste sentido, os autores apontam que, quando um indivíduo não consegue ultrapassar e concluir as fazes de processo de luto, podem gerar-se respostas desadaptadas.


A emergência de respostas pouco adaptadas associam-se ao surgimento do luto patológico definido como a “intensificação do luto a um nível em que a pessoa se encontra destroçada, originando um comportamento não adaptativo face à perda, permanecendo interminavelmente numa única fase, impedindo a sua progressão com vista à finalização do processo de luto”.


Considerando o interesse neste processo durante a infância, seria importante salientar algumas especificidades associadas a esta faixa etária. Durante este período do desenvolvimento, o luto está comummente associado à experiência de tristeza intensa, choro, perda de apetite, dificuldades em dormir (aumento do tempo para adormecer, pesadelos), diminuição da performance escolar, perda de interesse em relações sociais (amigos e colegas de escola) e em atividades do quotidiano. Adicionalmente é possível compreender que, à semelhança do que se verifica em adultos, podem existir momentos de dor intensos associados ao sentimento de perda sem motivo aparente para a sua exibição.


É ainda importante ressalvar que em crianças e adolescentes este processo pode ocorrer de forma intermitente, contrariamente ao que sucede com os adultos em que o mesmo é mais constante. Este fenômeno é característico do estado afetivo geral presente neste momento de desenvolvimento, uma vez que é geralmente mais mutável e reativo do que nos adultos.

Autores cujo foco da investigação reside no luto infantil ressalvam a existência de tarefas necessárias ao processo de luto, nomeadamente a aceitação da realidade da perda, a vivência plena do sofrimento emocional, ajustamento ao novo ambiente e ao sentimento do próprio perante a ausência do ente querido, encontrar um significado na perda e envolver-se com outros significativos que providenciam conforto e segurança nutrindo a criança do que necessita durante o momento de vida em que se encontra.


Contudo, nem sempre o processo de luto acontece de um modo normativo, podendo em alguns casos ser associado a um evento traumático. Neste sentido, o Luto Traumático Infantil ocorre quando o falecimento do ente querido está associado a circunstâncias traumáticas despoletando sintomas que impedem a criança de progredir no processo de luto.


Segundo aponta a investigação, a criança fica retida nos aspetos traumáticos da perda de tal modo que, quando relembra o ente querido, o pensamento é seguido por sentimentos de terror perante o modo como o mesmo faleceu. Assim, a criança tende a evitar recordar-se da pessoa perdida bem como acontecimentos ou situações a ela associadas, pela probabilidade de evocação de memórias traumáticas dolorosas. Os autores ressalvam que independentemente da causa da morte, esta pode originar um luto traumático na criança se esta de algum modo a tiver experienciado como tal.


O luto traumático é geralmente acompanhado por sintomas equivalentes aos de Stress Pós-Traumático que podem manifestar-se por pensamentos intrusivos e perturbadores ou sonhos sobre o evento traumático que levou ao falecimento do ente querido, sendo ainda descrito que as crianças tendem a manifestar reatividade fisiológica intensa ou sofrimento psicológico como resultado das memorias traumáticas.

Nesse sentido, a literatura aponta a frequência de sintomas de evitamento, referentes a pensamentos, sentimentos ou conversas sobre o falecido, assim como pessoas, lugares ou situações que as recordem do evento traumático. Sugerem ainda que crianças que vivenciam luto traumático tendem a expressar uma diminuição do interesse em atividades diárias, sentem-se emocionalmente distantes ou desconectadas dos outros, demonstram dificuldades afetivas e em prever um futuro a longo prazo, bem como sintomas de sobreestimulação que podem englobar: perturbações do sono, irritabilidade, explosões emocionais, diminuição da capacidade de concentração e hipervigilância.


Assim sendo, seria interessante considerar quais as intervenções psicológicas frequentemente utilizadas nestes casos, segundo aponta a literatura, o apoio prestado em casos de luto traumático na criança passa pela aplicação de Play-Therapy, Arteterapia e outras psicoterapias focadas nas emoções e no trauma.


As técnicas mencionadas revelam-se eficazes uma vez que a expressão dos sentimentos e do trauma podem ser destabilizadores para a criança assim, redirecionar o foco para atividades que permitam expressar-se de forma mais abstrata e sentir que tem controlo sobre o que partilha e experiência no seu mundo interno podem facilitar o processo terapêutico e conseguir gerir de uma forma mais adequada o processo de luto.



Um até já, Psikiko.

BB.

 

Referências Bibliográficas:

  • Edgar-Bailey, M., & Kress, V. E. (2010). Resolving child and adolescent traumatic grief: Creative techniques and interventions. Journal of Creativity in Mental Health, 5(2), 158-176.

  • Mannarino, A. P., & Cohen, J. A. (2011). Traumatic loss in children and adolescents. Journal of Child & Adolescent Trauma, 4, 22-33.

  • Ramos, V. A. B. (2016). O processo de luto. Revista Psicologia, 12(1), 13-24.

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