O Fim dos Ciclos Vitais - Quando as situações mudam o que vem a seguir e o impacto psicológico.
- Psikika
- 14 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Ainda que não seja fácil aceitar que determinada fase da vida chegou ao fim, é importante respeitar esse término.
O fim de ciclos é uma experiência comum na jornada humana, marcada por transições significativas que podem desencadear uma série de emoções e reflexões, evidenciando- se por vezes alguma negação ou resistência em encerrar um ciclo e aceitar a nova realidade. Estes períodos de transição correspondem a “pontes” ou fronteiras entre duas etapas, que acarretam um processo de mudança no qual é esperado que haja uma ponderação dos aspetos de que se liberta e que mantém, sendo aceites as respetivas perdas. Os fins de ciclos são sempre processos de mudança e transição que não são simples, fáceis de lidar ou breves. Assim, o processo de superação tende a ser lento e intenso, o que permite a sua elaboração.
Em diversos aspetos, o fim de ciclos pode ser comparado ao encerramento de capítulos das nossas vidas. Encerrar ciclos pode ser considerado um luto dadas as perdas experienciadas neste processo e as lembranças que acarreta. Segundo Freud, o luto diz respeito a um estado psíquico natural do ser humano, associado à nossa reação perante a perda de algo significativo. Isso pode incluir o término de relacionamentos ou empregos, a conclusão de projetos significativos ou até mesmo a transição de uma fase de vida para outra, como da adolescência para a idade adulta. Cada um desses eventos representa o encerramento de um ciclo e o início de outro, com implicações emocionais e psicológicas profundas.
Na psicologia, o fim de ciclos é estudado frequentemente sob a lente da resiliência, do desenvolvimento humano e do processo de adaptação. Para estudar-se o período de transição para a idade adulta (incomparável a qualquer outro) recorre-se frequentemente a acontecimentos chave da respetiva fase – marcos de transição – os quais muitas vezes precedem o fim desse período. Estes grandes marcos ou eventos são, ainda indicadores de mecanismos de desenvolvimento, e podem ser encarados como “eventos marcadores”, que caracterizam uma sequela de mudanças extensa e complexa. No caso da transição para a idade adulta, este período acarreta um imenso número de mudanças a ritmo acelerado, sendo uma época de profunda mudança no self e podendo dar origem a um período de crise e profundo conflito interno.
O processo de enfrentar o fim de um ciclo pode desencadear uma variedade de reações emocionais, desde a tristeza, nostalgia, ansiedade e até mesmo o alívio. Para alguns, o fim de um ciclo pode ser percebido como uma perda, especialmente no caso deste estar associado a algo familiar e confortável. Por outro lado, para outros, pode representar uma oportunidade de crescimento e renovação.
O modo como lidamos com o fim de ciclos é influenciado por uma série de fatores que incluem a nossa história de vida, a nossa personalidade, sistema de apoio social e capacidades e habilidades para enfrentar estes períodos e as “perdas” associadas a eles. Alguns indivíduos podem adaptar-se facilmente às mudanças, enquanto outros podem enfrentar dificuldades para lidar com a incerteza e ambiguidade que acompanham o encerramento de um ciclo, evidenciando-se enquanto stressor e podendo levar a crises de identidade e a evidenciar sintomatologia depressiva.
Ainda assim, o fim de ciclos também oferece oportunidades para o crescimento pessoal e a resiliência, uma vez que ao enfrentarmos o desconhecido e adaptarmo-nos a novas circunstâncias, podemos aprender mais sobre nós mesmos, as nossas capacidades e até mesmo as nossas prioridades (que vão variando ao longo da vida e respetivos ciclos). O fim de ciclos pode, então, desafiar-nos a desenvolver novas habilidades, a procurar novas fontes de significado e propósito, e a cultivar relacionamentos mais profundos e autênticos com os outros e com nós próprios.
Dadas as inúmeras mudanças e ciclos pelos quais passamos ao longo da vida, não só os grandes ciclos e Eras, como o fim da vida escolar, o término da faculdade, de relações e da realidade que vivemos ao longo desses anos, destaca-se a importância de encontrar formas saudáveis para lidar com o fim de ciclos. Estas podem incluir a terapia e a partilha de sentimentos com amigos e familiares com os quais tenhamos confiança. A partilha leva ao reviver e “re-sentir”, possibilitando que as emoções surjam, o que se demonstra uma etapa fundamental no processo de ressignificação, aceitação e elaboração da perda. A prática de técnicas de respiração, relaxamento e mindfulness, e o desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas para enfrentar os desafios que surgem durante estes períodos de transição são, ainda, ferramentas extremamente úteis.
Por fim, o fim de ciclos é uma parte inevitável da vida. Ao compreendermos as componentes e complexidades emocionais e psicológicas que estão envolvidas nesse processo, podemos preparar-nos para enfrentar as mudanças com maior resiliência, compaixão e aceitação. Ao invés de encarar o fim de um ciclo como um final definitivo, podemos aprender a vê-lo como o começo de novas oportunidades e possibilidades de crescimento pessoal.
Saudações Psikikas.
C.T.
Comments