As orientações lésbicas, gays, bissexuais (LGB) fazem parte da diversidade da sexualidade humana. Porém, a comunidade LGB lida frequentemente com os desafios resultantes do preconceito, discriminação e violência a que estão sujeitas e os quais se traduzem em sofrimento psicológico.
Ainda assim, é de realçar a existência de diferenças nos processos de estigmatização dentro das orientações LGB, uma vez que as mulheres podem experienciar os efeitos do sexismo e os homens a pressão para se conformarem com normas da masculinidade hegemónica. A acrescentar, a bissexualidade recorrentemente não é considerada uma orientação sexual válida, o que ministra ainda maior invisibilidade a este grupo.
Ao inserirem-se em contextos predominantemente heterossexistas ou estigmatizantes, os indivíduos LGB podem internalizar o preconceito e rejeição, podendo repercutir-se nos pedidos de ajuda psicológica, como a mudança da orientação sexual. Além do preconceito internalizado, estes pedidos têm intrínsecos o medo de ser alvo de estigma, violência e discriminação e de perder a sua rede de apoio, ou ainda um conflito interno ao nível da sua identidade. Uma vez que a orientação sexual não se trata de uma patologia, as técnicas de mudança de orientação sexual patenteiam um potencial danoso. De modo contrastante, a intervenção psicológica afirmativa tem a maior adequação ética e científica, ajudando os indivíduos a fortificar a sua autoestima e lidar com o preconceito.
O “coming out” implica o reconhecimento perante os outros, mas ainda perante si mesmo como tendo não só uma orientação LGB, mas enquanto pessoa LGB em contextos sociais distintos. Este processo acarreta diversas vulnerabilidades e repete-se ao longo da vida, sendo influenciado por fatores contextuais que modulam o impacto do estigma na vida das pessoas LGB.
O período do “coming out” pode demonstrar-se peculiarmente penoso para os adolescentes que, além das mudanças físicas, cognitivas e emocionais têm ainda de lidar com o preconceito interno e externo face à sua orientação sexual. Neste sentido, os jovens LGB podem correr riscos psicossociais mais acrescidos do que os jovens heterossexuais.
Dada a complexidade da temática e os riscos a que a população LGB está sujeita, é necessário que os psicólogos realizem um trabalho de autoanálise no qual avaliem a sua própria competência para lidar com esta comunidade, a sua diversidade, rede familiar e social. Este trabalho tem mais relevância ainda quando se toma consciência de que as intervenções psicológicas, modelos teóricos e linguagem tendem a caracterizar-se ainda pela hétero-normatividade.
Neste seguimento, é necessário que os psicólogos tenham conhecimento teórico e compreendam o desenvolvimento psicossocial dos clientes LGBTQ, tendo a capacidade para ajustar a intervenção às singularidades dos seus contextos de vida.
Importa também terem a consciencialização e aptidão para refletir sobre as próprias atitudes e limitações, assim como a capacidade de trabalhar em junção com outros profissionais de Saúde e de redigir relatórios clínicos adequados.
Assim, considera-se essencial relembrar alguns dos princípios pelos quais se regem os psicólogos na sua prática clínica, nomeadamente o respeito pelos Direitos Humanos e pelos princípios de igualdade, justiça e não discriminação, de respeito pela dignidade e pelos direitos da pessoa; e o reconhecimento e valorização da sua diversidade sexual, social e cultural, assim como da autonomia dos pacientes para agir e consentir. Dado que o objetivo dos psicólogos é a promoção do bem-estar dos pacientes, estes devem opor-se a práticas ou discursos que coloquem em causa a integridade ou atentem contra a saúde e bem-estar dos mesmos.
Importa relembrar a consciencialização que os Psicólogos devem ter acerca limites da sua competência, com base na sua formação específica a par das suas características e valores pessoais que interfiram com a sua isenção e objetividade, reforçando a necessidade de aquisição de conhecimentos que permitam dar resposta às peculiaridades dos pacientes e promover o seu bem-estar.
Por fim, dada a vulnerabilização desta comunidade e a estigmatização e discriminação de que é alvo, os psicólogos devem primar não só pela postura de respeito, mas de valorização e promoção da autoafirmação, de modo a contribuir para o bem-estar e qualidade de vida das pessoas LGB, ao invés de reforçar o preconceito e a sua “invisibilização”.
Saudações Psikikas.
C.T.
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