Eu não quero crescer, e agora?
- Psikika
- 20 de jan.
- 3 min de leitura
Nos últimos tempos tem sido possível observar um aumento de relatos parentais sobre a imaturidade dos filhos, a dificuldade dos mesmos em serem autónomos e conseguir gerir as situações do quotidiano de um modo adequado.
A pergunta que se impõe perante isto é naturalmente “e os pais/cuidadores, que contributo têm para este resultado?”.
Quando colocada a pergunta, alguns ficam sem saber o que responder (na verdade, não tinham pensado sobre isso), outros assumem que a culpa é de facto sua, uns recusam ter algo que ver com essas características e, no meio de tudo isto, fica o adolescente que inicia terapia sem saber ao certo porquê.
A verdade é que, cada vez mais assistimos a um desligamento entre as famílias, o tempo em conjunto de qualidade foi substituído por um ecrã que se torna o refugio quando temos de enfrentar os momentos em família, em vez de falar uns com os outros a refeição, esta muitas vezes não é feita em conjunto“os miúdos comem nos quartos ou jantam primeiro”. Os momentos de partilha e confraternização, a inclusão nas tarefas diárias são cada vez menores e os jovens sentem-se cada vez menos ligados à sua família.
Todas estas alterações têm impacto no jovem, idealizamos jovens autónomos e com maturidade, mas não os ajudamos a desenvolver as ferramentas que lhes vão permitir adquirir essas competências e gerir a sua vida psicológica, emocional, social e económica.
Ouve-se falar na Síndrome do Peter Pan em adultos, que segundo a literatura caracteriza-se pela incapacidade do sujeito de se envolver em comportamentos adequados a sua idade. Os individuos não querem ou sentem-se incapazes de crescer e agir em conformidade com o esperado, sendo encontrado em diversos artigos a descrição “corpo de adulto com mente de criança”. Esta síndrome não consta do DSM-5, contudo é referida por diversos nomes da psicologia.
No que se refere a sintomatologia é maioritariamente observada em homens em idade adulta, contudo pode também observar-se em mulheres. Os sujeitos tendem a revelar incapacidade em assumir responsabilidades e compromissos, cuidado excessivo com a sua aparencia fisica, baixa auto-estima (embora revelem o oposto).
Do ponto de vista de eventuais fatores predisponentes desta perturbação, os autores referem a associação da Síndrome de Peter Pan a pais superprotetores, a dependência das figuras parentais/cuidadores, falta de autonomia e competências para a vida que geram ansiedade durante a idade adulta que acaba por perpetuar as caracteristicas sintomatológicas.
Apesar desta perturbação/síndrome ser apenas “diagnosticada” em idade adulta, acredita-se que alguns sintomas possam surgir durante o período da adolescência tardia, devendo ser tida em conta em contexto terapêutico.
Neste seguimento a questão pertinente é, e quando não são os pais que se queixam da imaturidade dos filhos? Quando é o adolescente que nos chega à sessão e nos diz “sabes se podesse eu ficava sempre com esta idade, não quero crescer, eu não sei fazer nada, não quero ser adulto”, o que fazer perante isto?
Há uma clara recusa em crescer, motivada essencialmente pelo contexto familiar em que se vive, “os meus pais fazem tudo, até o meu pequeno almoço”, uma falta de autonomia evidente, e sobretudo uma falta de confiança em si mesmo. O facto de fazerem tudo por si, levou-o acreditar que não é capaz de se “desenvencilhar no mundo”, que não tem competência para alcançar os seus objetivos. Aquilo que se hipotetiza ser uma “Síndrome de Peter Pan “ tem tanto mais que se lhe diga.
E como pode um psicólogo intervir nesta situação? O trabalho seria diversificado e passaria não só pelo trabalho com o jovem, mas também pelo aconselhamento parental. Em contexto individual, com o adolescente, poderia trabalhar-se essencialmente as noções de self e a auto-estima do sujeito. Encontrar formas de promover a sua autonomia e confiança em si mesmo, capacitando-o para gerir as diversas situações de vida diária de modo a que pudesse aumentar a sua noção de valor e competência pessoal.
Estamos aqui, na PSIKIKA, para o ajudar.
91 425 07 10
Um até já PSIKIKO,
BB.
Commentaires