Crescer com o Crescimento do 0utro
- Psikika
- 14 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
O acto de ser pessoa faz-se por meio de movimentos de proximidade, distanciamento e constituição de nós mesmos como seres singulares com motivações, com um sentido do que é externo e interno, e um sentido de nós próprios na relação com os outros.

Estes processos cinésicos de proximidade e distanciamento, de aprendizagem de limites, liberdades e do que significa amar, não são processos estanques, delimitados no período essencial de desenvolvimento do Eu que é a infância e adolescência. Também se constroem no decorrer da vida, com momentos e fases mais turbulentas ou mais pacíficas. Não são, então, acontecimentos únicos ao longo do desenvolvimento, mas sim processos que podem ser interrompidos, recapitulados ou transformados. Também não são processos fechados em nós próprios, mas sim em permanente interação e permeáveis ao que nos rodeia: pessoas, família, sociedade.
A relação entre pais e filhos é o terreno de excepcional riqueza destes processos. É na família que se descobre e aprende em primeira linha quem se é, na interação com quem cuida. Mas esta descoberta e aprendizagem também ocorre noutra direção – os pais também aprendem quem são com os filhos, no exercício da parentalidade e do cuidar, implicando assim, reciprocidade de benefícios no cuidar, para pais e filhos.
Este cuidar não é único na forma, existindo em diversas configurações que serão um vislumbre da essência criativa do ser humano. Além disso, este cuidar também poderá ser veículo transformador do self parental – os processos psíquicos dos filhos e da própria relação diádica despertam os processos psíquicos internos dos pais.

Pensando nos pais que trazem o seu filho/a a um acompanhamento psicológico, chegam muitas vezes verdadeiramente preocupados com o sofrimento dos seus filhos, mas também antecipam que vão ser expostos os conflitos e dificuldades do seio familiar, os confrontos e afrontas às regras parentais, ou um processo de divórcio atribulado. Ademais, trazer o filho/a ao psicólogo pode ser sentido pelos pais como uma falha da parentalidade, tocando num sítio de vulnerabilidade, de culpa.

Apesar disso, este toque na vulnerabilidade, também poderá servir de oportunidade para os pais darem uma atenção especial às dinâmicas familiares e à conjugação das diferentes fases de vida que vivem sob o mesmo teto: as experiências individuais são muito díspares e podem ser agressoras entre elas quando não existe introspecção e boa comunicação. Há que tentar comunicar, entender sem julgamento, tentando não espelhar no outro somente os desejos e limitações. Deste modo, a relação entre pais e filhos pode provocar o crescimento também nos pais, que ao tocarem na experiência e na perspectiva do outro, abrem e enriquecem o seu próprio mundo.
Que o trazer o filho ao psicólogo seja uma porta aberta para os pais atenderem também aos seus próprios processos internos, pensando quem são na relação com o filho/a, e assim, crescer com o crescimento deste.
Psikikamente, desejo-vos um bom dia!
A.P.
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