A adolescência é um período tumultuado de transição entre a infância e a idade adulta, marcado por inúmeras mudanças físicas, cognitivas e emocionais. A regulação emocional durante a adolescência desempenha um papel crucial no desenvolvimento saudável e na adaptação às exigências da vida.
Durante esta etapa, os jovens experienciam uma montanha-russa de emoções, desde a euforia até a tristeza profunda, muitas vezes sem entender completamente o que sentem ou porquê de o sentirem. Trata-se, então, de um período de maiores oscilações diárias ao nível das emoções, em que as hormonas entram em cena. É, ainda, durante a adolescência que se verifica uma maior aceleração das reações ao nível das respostas dadas aos estímulos emocionais.
Todas estas mudanças originam perturbações nos sistemas emocionais da criança, o que desafia a regulação emocional que se vinha a adquirir com os anos e faz com que os pais possam sentir como se o seu filho tivesse regredido ao nível de um miúdo de 5 anos. A regulação emocional refere-se à capacidade de compreender, avaliar e gerenciar eficazmente as emoções, o que é fundamental para o bem-estar psicológico e social. No entanto, os adolescentes enfrentam desafios únicos ao nível da regulação emocional.
As mudanças emocionais, hormonais, psicossociais, cognitivas e neurológicas pelas quais os adolescentes passam neste período da sua vida acarretam novos desafios. Os adolescentes deparam-se, não só com a necessidade de lidar com novos stressores, juntamente com as pressões sociais e objetivos académicos, a par de uma crescente autonomia aos pais no que concerne à regulação emocional.
Todas estas mudanças podem fazer com que seja difícil para eles lidarem com suas emoções de forma construtiva, dando origem à necessidade acrescida do recurso a estratégias de regulação emocional eficazes e à capacidade de desenvolvimento de processos e competências regulatórias mais complexas. Ademais, o cérebro adolescente encontra-se ainda em desenvolvimento, especialmente as áreas responsáveis pelo controlo emocional e julgamento, o que pode levar a comportamentos impulsivos e decisões arriscadas.
Ao longo do crescimento e desenvolvimento emocional dos jovens, os pais assumem-se enquanto agentes de socialização das emoções, tendo um papel fulcral na promoção destas competências, visto ser nesta relação inicial que a criança adquire a capacidade de mentalizar.
Numa fase inicial da vida das crianças, as figuras cuidadoras são responsáveis por regularem e gerirem as suas emoções, modulando as estratégias de regulação e o seu reportório emocional, dado que estas são incapazes de se autorregularem. É, através da vivência com os pais e clima relacional familiar constante, que as crianças aprendem a expressar as suas emoções conseguindo moldar, de forma adaptativa, as suas estratégias e estilos de regulação emocional. Consequentemente, reações negativas dos pais a emoções negativas por parte da criança podem promover a adoção de estratégias de regulação mal adaptativas.
À medida que as crianças crescem, chegam à adolescência e posteriormente alcançam a idade adulta, a capacidade para regular os seus estados emocionais tende a progredir, no entanto, a qualidade da autorregulação é determinada pela qualidade da vinculação. Ainda assim, apesar da maior autonomia e capacidade de autorregulação, em situações emocionalmente mais exigentes a influência dos pares e dos cuidadores mantém-se. No entanto, ainda que a família tenha elevada relevância no desenvolvimento emocional da criança, a mesma não se demonstra tão relevante no que concerne aos adolescentes.
Assim, tanto os pais, como os educadores e profissionais de saúde desempenham um papel vital no apoio à regulação emocional dos adolescentes. Fornecer um ambiente seguro e acolhedor onde os jovens se sintam confortáveis para expressar suas emoções é fundamental. Além disso, ensinar habilidades de inteligência emocional, como a consciência emocional, a capacidade de tolerar a angústia e a resolução de problemas, pode ajudar os adolescentes a lidar melhor com os desafios emocionais.
A terapia pode ainda ser uma ferramenta valiosa para os adolescentes que sintam dificuldades em regular as suas emoções, dado que ter um espaço que sintam como seu e onde possam explorar seus sentimentos e aprender estratégias saudáveis de enfrentamento pode ser transformador.
Por fim, a regulação emocional na adolescência é um processo contínuo e complexo. À medida que os jovens aprendem a compreender e gerir as suas emoções, estão a construir as bases para um bem-estar emocional duradouro e para terem relações interpessoais saudáveis.
Saudações Psikikas.
C.T.
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