A FamĂlia e o Adolescente - A InfluĂȘncia Familiar no Comportamento Disruptivo dos Jovens
- Psikika
- 14 de jun. de 2024
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As caracterĂsticas individuais do sujeito, nomeadamente os seus traços de personalidade tĂȘm um impacto direto no comportamento exibido no seu dia-a-dia. Contudo alĂ©m destes fatores disposicionais, tambĂ©m fatores externos influenciam o modo como se comporta e como reage a situaçÔes que ocorrem no seu quotidiano. A influĂȘncia do contexto familiar, da relação estabelecida com os progenitores/cuidadores e o como esta impacta e pode ser transposta para outros contextos de vida do jovem, tem sido alvo de estudo por parte dos investigadores.
A literatura aponta que relaçÔes familiares problemĂĄticas podem estar relacionadas com comportamento desadaptado ou delinquente durante a adolescĂȘncia, sendo referida uma maior associação em contextos monoparentais, dificuldades conjugais, ausĂȘncia de controlo parental, comportamento parental pouco eficaz (estratĂ©gias de punição severas, estado mental da figura parental alterado), envolvimento em grupos de risco (comportamentos delinquentes) e dificuldades de relacionamento pais-filhos (nomeadamente padrĂ”es de vinculação insegura ou evitante).
Neste sentido, os investigadores apontam que as dificuldades relacionais vivenciadas em contexto familiar, podem associar-se a dificuldades no estabelecimento de um modelo de referĂȘncia, e que conjuntamente com a ausĂȘncia de um ambiente familiar acolhedor que colocam o jovem em risco de envolvimento em comportamento delinquente.
Deste modo, seria importante definir o comportamento delinquente como a infração de regras morais ou condutas convencionadas numa sociedade, podendo estas representar-se por roubos, furtos, violĂȘncia, vandalismo, venda de estupefacientes, uso e porte de armas, entre outros.
Ainda neste seguimento, outros autores focaram a sua investigação no estudo da vinculação parental vivenciada com o desenvolvimento de comportamento delinquente. Apontam trĂȘs aspetos essenciais da vinculação: identificação afetiva, intimidade e comunicação e supervisĂŁo como os aspetos fundamentais para o estabelecimento de uma vinculação segura, que se assume como um fator protetor. Contudo, outras investigaçÔes mencionam outras caracterĂsticas importantes, nomeadamente interesse, preocupação, ajuda, cuidado, confiança, encorajamento, ausĂȘncia de rejeição, contacto fĂsico de proximidade, interaçÔes frequentes, comunicação positiva e identificação parental.
As investigaçÔes desenvolvidas demonstram que a delinquĂȘncia juvenil se caracteriza como um fenĂłmeno de grupo que resulta de um conjunto de caracterĂsticas exibidas pelos jovens pertencentes ao mesmo, geralmente constituĂdo por uma hierarquia, onde cada elemento detĂ©m uma função e lugar em relação a outro, elevada coesĂŁo social e um padrĂŁo comportamental que tem como base a rejeição dos valores e experiĂȘncias dinamizadas pelos adultos. Assim, o comportamento delinquente surge como um modo de imposição, que recorre ao uso de violĂȘncia e agressividade como estratĂ©gia preferencial de resolução de conflitos e problemas interpessoais.
Nesse seguimento, a literatura aponta um conjunto de caracterĂsticas parentais que potenciam o desenvolvimento e manutenção de comportamentos desadaptados, referem que a indiferença parental, hostilidade e rejeição perante a criança origina sentimentos emocionais de insegurança que, consequentemente, se relacionam com um desenvolvimento das caracterĂsticas de personalidade empobrecidas.
Os mesmos autores referem ainda que o recurso a um estilo parental autoritĂĄrio, onde se exerce controlo excessivo, regras e estratĂ©gias de punição severas, influenciam a capacidade de expressĂŁo do jovem, que acaba assim por suprimir os seus sentimentos e pensamentos. Estas dificuldades associadas a ausĂȘncia de expressĂŁo de afeto e encorajamento resultam, muitas vezes, num sentimento de revolta vivenciado pelo jovem que pretende assim desvincular-se da sua famĂlia, entrando em grupos que compreendam o seu sentir. De um modo geral, pode entĂŁo compreender-se que atitudes parentais negativas, aumentam sentimentos de insegurança no adolescente que, posteriormente o colocam em risco de desenvolver problemas ao nĂvel de saĂșde mental ou originar a expressĂŁo de comportamento delinquente.
Por oposição, comportamentos parentais mais positivos onde Ă© possĂvel a expressĂŁo de afetividade, compreensĂŁo, suporte, encorajamento e comunicação promovem competĂȘncias sociais e comportamentos adaptados por parte do jovem, potenciando o desenvolvimento das capacidades socioemocionais do mesmo.
Do ponto de vista da intervenção psicolĂłgica, diversas abordagens sĂŁo apontadas para a intervenção com jovens que apresentam comportamento de risco ou comportamento delinquente. Independentemente da escola do terapeuta, uma intervenção centrada no indivĂduo e nas suas relaçÔes interpessoais, a compreensĂŁo do seu contexto social e familiar, bem como das atividades de vida diĂĄria seria fundamental para o delineamento de um apoio adequado.
No que se refere Ă s tĂ©cnicas frequentemente apontadas, estas geralmente centram-se na aprendizagem de conflitos e conceitos morais, a aquisição de estratĂ©gias adequadas de gestĂŁo de conflitos e resolução de problemas, desenvolvimentos de competĂȘncias de relacionamento adequadas e de comportamento prĂł-social.
Um até jå, Psikiko.
BB.
Bibliografia:
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