A ansiedade é caracterizada como um estado emocional intenso marcado por sentimentos de medo e preocupação, cuja ameaça é desconhecida. Segundo os investigadores, na sua base contem sintomas cognitivos como incerteza, dificuldade em manter a atenção, medo de perder o controlo, hipervigilância e pensamentos obsessivos; e sintomas psicológicos como irritabilidade, pouca capacidade de tolerância à frustração, pânico e depressão, sendo apontada como uma das perturbações mais comuns em crianças.
A literatura indica que a ansiedade é relativamente estável ao longo do desenvolvimento do indivíduo, havendo uma tendência para a exibição dos primeiros sintomas em idades precoces (idade pré-escolar). Tem impacto em diversas áreas da vida do sujeito nomeadamente nas relações interpessoais que estabelece, no contexto familiar em que se insere, no percurso acadêmico, na autoconfiança exibida influenciando assim o bem estar físico e psicológico. Neste sentido a intervenção atempada torna-se essencial para a compreensão do funcionamento da criança e para a diminuição dos impactos que esta pode ter ao longo da sua vida.
Nos últimos tempos os investigadores têm focado a sua atenção na compreensão das comorbilidades associadas a esta perturbação. Considerando a informação referida, consideramos importante um entendimento mais aprofundado das implicações da ansiedade no sono das crianças.
Como referido por diversos estudos, um sono de qualidade é imprescindível para o bem-estar e desenvolvimento da criança, assim sendo, a ausência da mesma pode estar associada a exibição de dificuldades como a impulsividade, problemas de concentração, problemas comportamentais, diminuição do rendimento escolar e até mesmo ao desenvolvimento de outras patologias como é o caso da ansiedade.
Dificuldades no sono são definidas na literatura como insónias, dificuldade em adormecer ou despertares noturnos e parasónias que incluem sonumbulismo e terrores noturnos. Adicionalmente é salientada a dificuldade em compreender qual das perturbações antecede a outra, estando ambas intrínsecamente relacionadas.
Neste sentido, baseando-se em relatos parentais ou do adolescente compreende- se que a resistência em dormir se encontra entre os problemas de sono mais evidenciados em crianças/jovens ansiosos. Seria importante ressalvar que, segundo as investigações, parece haver diferenças entre o tipo de perturbação de ansiedade identificada e o problema de sono referido, sendo exemplificado que crianças que exibem ansiedade generalizada ou ansiedade de separação oferecem maior resistência em ir para a cama ou em dormir sozinhas, enquanto crianças cuja ansiedade se encontra relacionada com a perturbação obsessivo-compulsiva evidenciam menor qualidade e eficiência de sono bem como um maior tempo de latência para adormecer.
No que se refere tanto a ansiedade como a dificuldade em adormecer, ambas as variáveis são influenciadas por características genéticas, sendo possível verificar uma predisposição para a exibição dos problemas referidos, bem como o ambiente familiar em que a criança se insere. Estas variáveis devem ser consideradas na medida em que, apesar da elevada predisposição genética para o desenvolvimento da patologia, um contexto adequado e que permita a criança uma melhor gestão dos seus recursos e que lhe providencie o conforto e segurança necessários podem reduzir significativamente os sintomas e impactos da mesma na vida da criança e na dos que a rodeiam.
Do ponto de vista das intervenções adequadas, o apoio psicoterapêutico assume- se como imprescindível para a melhoria dos sintomas referidos (tanto em termos de ansiedade como problemas de sono).
Relativamente à ansiedade, são diversas as abordagens indicadas sendo referida a eficácia da terapia cognitiva comportamental, através de técnicas de resolução de problemas, de relaxamento e gestão de emoções que possibilitam à criança a aquisição de competências e estratégias adaptadas para gerir os sintomas despoletados pela perturbação.
Adicionalmente a ludoterapia centrada na criança parece desenvolver resultados positivos do ponto de vista da diminuição da sintomatologia apresentada, esta recorrendo à brincadeira permite a criança, geralmente com maior dificuldade de expressão emocional, entrar em contacto com as suas emoções e sentimentos, explorando-os através do jogo simbólico permitindo-a assim contactar com o seu mundo interno ao mesmo tempo que lhe é oferecida uma maior contenção da desorganização sentida pela presença do terapeuta.
No que se refere aos problemas de sono, diversas estratégias são apontadas na literatura, nomeadamente a higiene de sono através da implementação de rotinas que permitam à criança reduzir o seu nível de atividade perto da hora de deitar, bem como uma redução de variáveis que possam dificultar o processo de adormecer, como é o caso do uso de ecrãs.
É e será sempre interessante compreender a origem das dificuldades do sono, uma vez que, tal como referido por diversos autores, estas podem ter causas emocionais ou neuro-cognitivas que devem ser avaliadas e consideradas durante o delineamento da intervenção mais adaptada.
Um até já, Psikiko.
BB.
Referências:
Alfano, C. A., Pina, A. A., Zerr, A. A., & Villalta, I. K. (2010). Pre-sleep arousal and sleep problems of anxiety-disordered youth. Child Psychiatry & Human Development, 41, 156-167.
Alfano, C. A., Ginsburg, G. S., & Kingery, J. N. (2007). Sleep-related problems among children and adolescents with anxiety disorders. Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 46(2), 224-232.
Hateli, B. (2022). The effect of non‐directive play therapy on reduction of anxiety disorders in young children. Counselling and Psychotherapy Research, 22(1), 140- 146.
Willis, T. A., & Gregory, A. M. (2015). Anxiety disorders and sleep in children and adolescents. Sleep Medicine Clinics, 10(2), 125-131.
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